Texto de Rafael Cândido Batista
"Quando
ganhar é tudo, fazemos tudo para ganhar" (Nicholas, 1989).
A nossa missão na formação desportiva ficaria cerceada,
caso não me fosse permitido exprimir, em forma de opinião, pormenores de
postura que entendo serem de magnânime valor.
O desporto é, de facto, um fenómeno cultural alvo de
várias alterações. Este conceito sofre mutações quase de modo instantâneo, na
medida em que a sociedade evolui no redimensionamento de seus princípios e de
seus valores. Desde a sua criação, como desporto moderno, pelos ingleses no
século passado até aos nossos dias, evolui na sua gestão, métodos de treino,
tipos e modalidades desportivas e, vem adaptando as suas formas
prático-organizativas com o objectivo de o tornar acessível a todos os grupos
da população que o desejem praticar.
Actualmente o desporto corre sério risco de acumular um
conjunto de perdas morais que o descredibilizam socialmente como factor
educativo. O sistema desportivo não pode continuar a abrir mão de um conjunto
de princípios e valores que asseguram sentido cultural e formativo à prática
desportiva
Esses princípios e valores têm de estar presentes em
todas as dimensões e expressões da prática desportiva e são independentes do
rendimento ou sucesso desportivos.
A aquisição de valores e princípios não se faz por
imposição, por "decreto", pela simples leitura de documentos, é algo
que se constrói, implicando, por isso, o seu "ensino" e a sua
"prática".
O desporto integra a sociedade, ambos são regidos pelos
mesmos sistemas de normas e valores. Assume-se como uma actividade cultural que
se caracteriza intrinsecamente por possuir um valor educativo inestimável e a
estimar. Com efeito, o desporto, pelas suas regras, objectivos e exigências
implica, na sua prática, o esguardo por valores éticos e morais, tais como: a solidariedade,
a honestidade, a disciplina, a paciência, a compreensão, o respeito pelo outro
e pela regra, a superação, o trabalho, o esforço e muito mais, num elenco
infindável de atributos.
As questões associadas à ética no desporto, e mais
especificamente as que dizem respeito ao espírito desportivo e à tolerância,
assumem hoje uma importância acrescida. Por maioria de razão, não podemos negar
a relevância, nos diversos âmbitos, da prática e do espectáculo desportivo, mas
há que reconhecer também que tanto a primeira como o segundo se revelam como
campos especiais e rugosos, nos quais os fins – ganhar – parecem justificar quaisquer meios – a violência, a
corrupção, a fraude; o querer ganhar a todo e qualquer custo, o doping, a
deslealdade, a ausência de espírito desportivo.
É da responsabilidade pessoal e insubstituível de cada um
– pais, professores, treinadores, dirigentes e também árbitros – o
comportamento que exibem perante as crianças e jovens para as quais constituem
um modelo de referência. No entanto, esses modelos são construídos e destruídos
a uma velocidade vertiginosa. Importa pois, proporcionar aos jovens a
oportunidade de conhecerem e conviverem com modelos positivos.
O acesso dos jovens à prática desportiva, hoje em dia,
faz-se de forma generalizada (basta abrir uma porta e inscrições), o problema
consiste em fazer corresponder essa prática a princípios educativos e morais.
Tais inquietações fomentam uma questão, sobre a qual vale
a pena reflectirmos um pouco:
- Será
que o modelo de desporto de rendimento, em que estamos enquadrados, com as suas
elevadas exigências, estará a proporcionar aos nossos jovens, inferências e práticas
desportivas correctas?
Nesta perspectiva, se é importante a divulgação e a
defesa dos valores, princípios e mensagens éticas do desporto, como contributo
relevante para a moralização do acto desportivo, importa de igual modo denunciar
todos aqueles que contribuem para a criação de situações lesivas e atentatórias
daqueles princípios.
A validade positiva da função social que o desporto
desempenha tanto no plano formativo como no educativo, obriga os vários intervenientes,
ao adequado conhecimento e tratamento dos efeitos perversos consequentes da
sobrevalorização dos aspectos negativos do seu universo, geradores de atitudes
e comportamentos opostos às finalidades de um desporto são e salutar.
Assim os preceitos de ética e de fair-play, por nós acerrimamente defendidos,
não podem deixar de ser essenciais para a sobrevivência da Academia, sendo
determinante para nós, fautores, que nos exponhamos como referência irrefutável
para os jovens que connosco partilham o gosto pelo basquetebol, e
desejavelmente exemplares nos mais distintos contextos.
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