Jogos 29 e 30 de Novembro

29 Novembro - Sub 18 Mas: Academia de Basquetebol - SC Marinhense 14:30 / Sub 16 Fem: Academia Becoimbra - BC Cantanhede 16:3030 Novembro - Sub 14 Masc Sampaense - Academia de Basquetebol 11:00 / Sub 12 Fem e Mas Academia de Basquetebol - Olivais Coimbra 16:30 / Sub 16 Masc Sampaense - Academia de Basquetebol 16:00

domingo, 2 de janeiro de 2011

Acerca da Formação Infanto-juvenil na Organização Desportiva


Longe vai o tempo da organização intuitiva do desporto, das paixões bairristas, do amor à camisola. O desporto mercantilizou-se, aglutinou interesses exteriores a si, transformou-se em espectáculo vendável e perdeu virtudes originais, em favor do lucro dos seus agentes, e sobretudo dos seus agentes não praticantes.
A formação desportiva e a prática do desporto pelas crianças é unanimemente reconhecida como um valor incontornável na preparação dos homens e mulheres de amanhã.

É muito vasta a literatura sobre o Jogo e a Educação Física como espaço de sociabilidade, de desenvolvimento da personalidade, quer nas suas dimensões cognitivas quer afecto-emocionais. Igualmente bem documentada está a prática das actividades desportivas infanto-juvenis, enquanto factor determinante na adopção de estilos de vida saudáveis futuros, mas também como factor de maturação fisiológica saudável.Sobre este último aspecto, qualquer educador concordará que a prática regular do desporto é fundamental para minorar os efeitos nefastos de outras actividades sedentárias, igualmente apelativas, de inegável valor, mas muitas vezes alienantes dos mais pequenos – já para não falar do papel do desporto na prevenção de desvios alimentares, consumo de álcool e outras drogas. Pais e educadores consolidaram há muito no seu património intuitivo que o desporto é benéfico, proporciona a descoberta do corpo em interacção com os iguais, oferece oportunidades de desenvolvimento motor, de aprendizagem dos valores basilares da cidadania no contexto normativo do jogo desportivo, incentiva e treina a atenção concentrada para a superação da adversidade, complementa e potencia outras actividades humanas, mais orientadas para a expressão artística e conhecimento estético da realidade. Sempre que cada educador reflecte nestes, e eventualmente outros aspectos benéficos do desporto, ocorre-lhe de imediato, que tanto potencial educativo, só tornará efectivo se o treino for orientado – e bem orientado. Não admira que assim se pense, pois são demasiado frequentes  fenómenos perversos em torno do desporto que nada têm a ver com a alegria de praticá-lo, nem com os seus mais nobres cultores; são obra de brutos e para brutos, mais reflectem o que de pior a expressão humana tem, e quase sempre têm lugar de honra junto da comunicação social. Veja-se a ênfase que é dada à corrupção, às disputas de poder e à litigância nas organizações desportivas, à mercantilização de valores desportivos, às imagens de violência nos recintos desportivos e fora deles, ao fanatismo das claques, etc. À medida que reflecte no fenómeno desportivo, qualquer educador se dá conta que a par das boas práticas há más práticas, sobretudo quando os factores competitivos começam a ser prementes e quando no percurso do seu educando começa a ganhar contornos uma vida predominantemente desportiva. Mais preocupado com a supervisão ou coordenação do treino e do enquadramento desportivo fica, quando se apercebe de que más práticas podem ser nefastas e até limitantes do pleno desenvolvimento do seu educando e do grupo-equipa a que pertence.
Uma vez que em Portugal a formação desportiva é feita predominantemente nos clubes desportivos, que demoram a ser orientados por pessoas qualificadas em Desporto, muitas vezes dominadas por prioridades imediatas ligadas ao financiamento do desporto profissional, é muito provável que a formação das classes infantis e juvenis seja relegada para último plano. Não há tempo nem dinheiro, nem paciência para investir a tão longo prazo, não há espaço sequer para projectos de formação, pois é mais fácil contratar jogadores já formados que ajudem a manter a equipa nos lugares cimeiros e a bandeira bem alto. Provavelmente pensarão estes agentes desportivos que os atletas formados caem do céu, ou pior, que se os não houver na região que se poderão importar de uma qualquer América, a bom preço. É perfeitamente compreensível mas igualmente inaceitável que os melhores recursos materiais e humanos sejam afectos ao desporto profissional, antes de os escalões de formação terem o essencial para se desenvolverem, captarem e “produzirem” atletas. Na origem deste problema está um conjunto de razões que têm como principais eixos a falta de uma cultura desportiva fundamentada nas Ciências do Desporto e arredada dos factores genéticos da necessidade social do desporto, enquanto expressão radicalmente humana. A mercantilização, em diverso grau, das diferentes modalidades desportivas não tem paralelo com nenhuma outra actividade humana, com raízes culturais ou nascida da vivência do lazer e tempo livre das populações. É verdade que é nos clubes que se leva a formação desportiva de forma mais consistente e consequente, definindo-se escalões e organizando-se campeonatos. Porém, nem sempre aí a formação é considerada um bem em si; é, quando muito, uma passagem para o escalão maior, é um percurso que conduz à maturidade desportiva, onde o atleta deve “render“. É lamentável quando assim é, cabendo a muitos dos excelentes treinadores ao serviço da formação nos clubes, contornar todo o constrangimento que este modo de encarar a formação tem para o seu desempenho como treinador e principalmente para os jovens atletas. Não se pense que a mentalidade centrada no binómio formação-rendimento vem apenas de dentro dos clubes. Não são necessários grandes estudos sociológicos para se constatar que tal mentalidade radica em grau variável entre os pais, os adeptos dos clubes, os próprios atletas e o público que está nas bancadas ou a escrever nos jornais. Também por esta razão o treinador deve ser antes de mais um educador.
Por uma questão de estratégia de mudança numa direcção mais consistente com a formação desportiva, valorizada em si por todos os seus actores, resta a formação desportiva em contexto escolar, como alternativa, complemento e até de potenciação da formação nos clubes.É uma questão de tempo e de pôr mãos-à-obra.
Está de parabéns a Escola e a Academia de Basquetebol D. Dinis pela sua pujança demonstrada neste 1º Campus de treinos, estão de parabéns todos os atletas que lá participaram e todos os que se empenharam neste encontro de vontades. Já estamos com saudades e todos perguntamos quando é o próximo Campus.

Paulo Jorge Lucas

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